Na verdade, nossas maiores confusões partem do fato de nos perguntarmos assim: “Por que confessar-me a um sacerdote, homem pecador com o eu, e não diretamente – e só – a Deus?” Quando assim fazemos, nossos olhos estão apenas em nós e em nossa “liberdade” e/ou comodidade, e não em Deus, em Sua liberdade e misericórdia.
É obedecendo às palavras de Cristo que nos confessamos não somente a Deus, mas também a um sacerdote, homem igual a mim e a você. Acontece, porém, que ele foi escolhido por Deus e Dele recebeu uma graça e uma autoridade, através destas palavras ditas pelo próprio Cristo e transmitidas a todos os sacerdotes: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 23). Em relação a isso, à graça e autoridade que Jesus lhe deu, não importando sua condição de pecador, é que o sacerdote é diferente de mim e de você.
O sacramento da reconciliação (outro nome da confissão) é um mistério da misericórdia de Deus. Veja comigo: fato de nos confessarmos com um homem, pecador, só conta a nosso favor, justamente porque esse sacerdote com o qual me confesso sabe o que é a fraqueza humana, experimenta na sua vida o que é a luta contra o pecado, “sabe compadecer-se dos que estão na ignorância, porque também ele está cercado de fraqueza.” (Hb 5 2). Porém, não obstante a essa sua condição humana e frágil, sobre ele repousa uma graça e uma autoridade, dada por Cristo, para perdoar nossos pecados.
Em Lc 5, 12-16 temos a cura de um leproso, realizada por Jesus: “Ordenou-lhe Jesus que não o contasse a ninguém, dizendo-lhe, porém: ‘Vai e mostra-te ao sacerdote...’” (v.14a). Prestando atenção e “mergulhando” nessa passagem bíblica, nós podemos ouvir as palavras de Jesus, que fala ao leproso, mas fala também a todas as pessoas que pecaram, se arrependeram e querem voltar à comunhão com Deus e com os irmãos. Observe que Cristo ordena que o leproso não conte nada a ninguém, mas em relação ao sacerdote Cristo diz: “Vai e mostra-te”. É também por isso que devo confessar-me a um sacerdote, obedecendo a Cristo, que quis escolher mediadores da Sua misericórdia.
Nossa posição em relação à confissão é uma questão de fé e humildade. Preciso crer que há um Deus que, por amor a mim, me perdoa através das palavras e gestos de uma pessoa humana; depois, preciso reconhecer que resisto a ser pequeno diante de Deus. Infelizmente, o que muitas vezes quero fazer é viver sem Deus, sem seu perdão, ser Deus no lugar Dele e salvar-me a mim mesmo, ou negar minha necessidade de salvação, sem ter que “encará-lo”. Seria muito fácil e cômodo se eu me confessasse para o nada, para mim mesmo ou, como muitas vezes dizem, “diretamente a Deus”. Mas, se Deus aparecesse agora e dissesse que só deveríamos nos confessar a Ele, diretamente, sem nenhuma mediação humana – acredite – a resistência, as dúvidas e/ou a falta de fé seria exatamente as mesmas: por que me confessar a Deus? E a minha liberdade? Continuariam a se perguntar. Sabe por quê? Porque o problema está dentro de nós e não fora, e não em Deus ou nos seus sacerdotes.
A verdade de fundo para toda essa resistência é o medo de Deus. Você e eu temos medo de Deus, assim como Adão e Eva, depois de terem pecado (cf. Gn 3, 8-10). Por exemplo, se alguém ofende gravemente um grande amigo, será fácil contar a ofensa pra qualquer pessoa, até dizer a outros o quanto se está arrependido, mas será muito difícil conversar sobre a ofensa e pedir perdão para o próprio amigo, a quem ofendemos. Passaremos um tempo evitando sua presença e será dificílimo olhar-lhe nos olhos. Se tivermos coragem para, livremente, pedirmos perdão a esse amigo, é porque o conhecemos, sabemos que Ele não nos condenará e que podemos contar com seu perdão.
Daí, concluímos que precisamos, você e eu, conhecer mais a Deus, travar uma amizade sincera com Ele, para que não sejamos daqueles que se afastam da Igreja e de Deus por acharem que Ele é um homem cujo principal divertimento é anotar um por um os nossos pecados, para depois castigar-nos. Se não formos amigos de Deus e vivermos seguindo apenas a opinião que os outros têm Dele, correremos o risco de achar muito comum que haja em cada esquina um posto de distribuição de drogas, abortivos e anticoncepcionais e, ao contrário, ficaremos escandalizados pelo fato de Deus ter desejado nos dar, em cada sacerdote, um “posto de distribuição” da Sua infinita misericórdia.
O sacramento da confissão é o único “tribunal” no qual entro, confesso-me culpado, e saio completamente absolvido.
Saiba mais: http://www.comshalom.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário