É bem conhecido o texto de Mt 16,13-24, que apresenta alguns
dos aspectos essenciais da nossa fé cristã, aspectos que jamais poderemos
esquecer se quisermos ser realmente fiéis a Nosso Senhor. Vejamo-los um a um:
Primeiro. A
pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens que eu sou?” Notem que as respostas
são muitas: umas erradas, outras imprecisas, nenhuma satisfatória. Estejamos
atentos a este fato: somente a razão humana, entregue às suas próprias forças,
jamais alcançará verdadeiramente o mistério de Cristo. A verdade sobre o
Senhor, sua realidade mais profunda, sua obra salvífica, o mistério de sua
pessoa e de sua missão, sua absoluta necessidade para que o mundo encontre
salvação, vida e paz somente podem ser compreendidos à luz da fé, isto é,
daquela humilde atitude de abertura para o Senhor que nos vem ao encontro e nos
fala. O homem fechado em si mesmo, preso no estreito orgulho da sua razão,
jamais poderá de verdade penetrar no mistério de Cristo e experimentar a doçura
de sua salvação. Quanto já se disse de Jesus; quanto se diz hoje ainda: já
tentaram descrevê-lo como um simples sábio, como um homem bom e justo, como uma
espécie de pacifista, como um pregador de uma moral humanista, como um
revolucionário, o primeiro comunista, como um hippie, etc.
Nós, cristãos, não
devemos nos iludir nem nos deixar levar por tais visões do nosso Divino
Salvador. Jesus é e será sempre aquilo que a Igreja sempre experimentou,
testemunhou e ensinou sobre ele: o Filho eterno do Pai, Deus com o Pai e como o
Pai, o Messias, o único Salvador da humanidade, através de quem e para quem
tudo foi criado no céu e na terra. Qualquer afirmação sobre Jesus que seja
menos que isso, não é cristã e deve ser rejeitada claramente pelos cristãos!
Segundo. Ante as
opiniões do mundo, o Senhor dirige a pergunta a nós, seus discípulos: “E vós,
quem dizeis que eu sou?” Em cada geração, todos nós e cada um de nós devemos
responder quem é Jesus. Não se trata de uma resposta somente teórica,
teológica, digamos assim. Trata-se de uma resposta que deve ter sérias
repercussões na nossa vida. Então: quem é Jesus para mim? Que papel desempenha
na minha vida? Como me relaciono com ele? Amo-o? Procuro-o na oração, procuro
de todo o meu coração viver na sua palavra? Estou disposto a construir minha
existência de acordo com a sua verdade? Deixo-me julgar por ele ou eu mesmo, discretamente,
procuro julgá-lo? São perguntas muito atuais, sobretudo hoje, quando nossa
sociedade ocidental vira as costas para o Cristo, julgando-o anacrônico e
ultrapassado. Agora que a nossa cultura já não considera mais Jesus como aquele
que é o Caminho, a Verdade e a Vida, mas julga que a própria razão humana, com
seus humores e pretensões, é que é a Verdade e a Luz, é, mais que nunca,
essencial que nós proclamemos com a vida, com a palavra e com os costumes que
Jesus é realmente o nosso Senhor, o nosso critério, a nossa única Verdade!
Terceiro. Pedro
respondeu quem é Jesus: “Tu és o Messias!”, isto é, “Tu és o Cristo, o Esperado
de Israel, aquele que Deus prometera aos nossos Pais!” Na mesma passagem, em
São Mateus, Jesus afirma claramente: “Não foi carne nem sangue que te revelaram
isto, mas o meu Pai que está nos céus” (Mt 16,15). Insisto: somente o Pai, na
potência do Santo Espírito que habita em nós e na Igreja como um todo, é que
pode revelar-nos quem é Jesus. A fé não é uma experiência acadêmica, não é
fruto de estudos, não se resume a uma especulação teológica. Para um cristão,
crer é entrar na experiência que há dois mil anos a Igreja vem fazendo na
Palavra, nos sacramentos, na vida de cada dia: a experiência do Cristo Senhor,
que foi morto pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa vida e
justificação. Quem se coloca fora dessa fé, da fé da Igreja, já não é realmente
cristão! Aqui é muito importante compreender que a nossa fé é pessoal, mas
nunca individual: cremos na fé da Igreja, cremos no Cristo da Igreja, cremos
como Igreja e com a Igreja. Uma outra fé, um outro Cristo seriam triste ilusão!
Quarto. O
Evangelho nos surpreende com uma afirmação: “Jesus proibiu-lhes severamente de
falar a alguém a seu respeito”. Por quê? Porque havia o perigo de pensar nele
como um messias glorioso, um messias como os sonhos dos judeus haviam
fabricado: o messias do sucesso, das curas, dos shows da fé, dos palanques
políticos, etc. Jesus somente afirmará de modo público que é o Messias quando
estiver preso, amarrado, diante do Sumo Sacerdote. Aí já não haverá ocasião
para engano. Mas, aqui a pergunta: Também nós, muitas vezes, não temos a
tentação de querer um Cristo do nosso modo, sob a nossa medida, para nosso
consumo? Amamos o Cristo como ele é ou o renegamos quando não faz como
gostaríamos? Estamos realmente dispostos a ir com ele até o fim, crendo nele e
nele nos abandonando?
Quinto.
Exatamente para deixar claro que tipo de Messias ele é, Jesus começa a dizer
“que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado; devia ser morto e
ressuscitar depois de três dias. Ele dizia isso abertamente”. Eis o tipo de
Messias, o tipo de Salvador, o tipo de Deus que Jesus é! Será que nos
interessa? Estamos nós dispostos a seguir um Mestre assim?
Sexto. Não será a
nossa a mesma atitude de Pedro, que repreende Jesus, que desejaria um mestre
mais racional, mais palatável, menos radical? Não é essa a maior tentação
nossa: um Cristo sem cruz, um cristianismo sem renúncia, uma vida cristã que
não nos custe nada?
Sétimo. A resposta
de Jesus é clara, curta e dirigida perenemente a todos nós: “Se alguém me quer
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar
a sua vida, vai perdê-la; mas quem quiser perder a sua vida por causa de mim e
do Evangelho, vai salvá-la!” O caminho é este, sem máscara, sem acordos, sem
jeitinhos! Nosso Senhor nunca nos enganou; sempre disse claramente quais as
condições para segui-lo…
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