[/ Retirado Blog http://rapaduraespiritual.blogspot.com por Padre Marcos/]
Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste.
Eis aí um ponto de grande importância: somos chamados à
felicidade. Por mais que isso pareça uma utopia, algo distante, muito
idealismo, coisa vaga e “romântica”, é o nosso chamado e para isso fomos
criados. O sofrimento do tempo presente não pode impedir a realização deste
chamado. "As tribulações do tempo presente não têm proporção com a glória
que há de vir" (Rm 8, 18). Paulo é quem diz isso. Entretanto, é bom
lembrar o seguinte.... existe felicidade e existe felicidade! O que é ser
feliz? O que significa ser um alguém realizado, contente, um indivíduo que
atingiu suas metas? Será isso felicidade? Bem, parece-me importante constatar
que a pessoa humana nunca está satisfeita plenamente com tudo. Tem sempre algo
que nos deixa descontentes, incompletos, insatisfeitos,...,, como se nos
faltasse algo. Percebe-se que na vida de não poucas pessoas que eu encontrei
por aí é exatamente isso que acontece. E as pessoas buscam ser felizes, buscam
intensamente a felicidade. E onde ela está? Em que ela consiste?
A mentalidade das pessoas atualmente, alimentada pela mídia,
pelas correntes de pensamento, pela convivência com os outros, pelas várias
ideologias, linhas filosóficas e sistemas econômicos acabam divulgando a idéia
que a felicidade consiste em tanta coisa e precisa-se de tanta coisa para ser
feliz. Por isso, muito dinheiro e muitas posses (bem como tudo o que o dinheiro
puder financiar ou adquirir), uma saúde de ferro, uma beleza que entre nos
padrões do fascínio e da sedução, gozar de todos os prazeres que a vida oferece
(sem freios e sem princípios), a fama e a projeção, ser amado e estimado por
todos ou por muitos, pelo menos, ter muito conhecimento, muitos títulos
acadêmicos e ser bem sucedido, subir no topo, na liderança, no comando, e por
aí vamos. A lista é até grande. Mas, no fundo, se as pessoas pararem,
colocarem-se diante de si mesmas, da própria verdade, irão perceber que há um
vazio, uma ausência, algo incompleto, tudo isso não está à altura de satisfazer
um desejo de infinito que há no coração humano. Daí vem o brilhante pensamento
de uma das inteligências mais brilhantes que a humanidade tem notícia:
AGOSTINHO DE HIPONA. Esse grande bispo e doutor da Igreja que morreu no século
V, deixou-nos uma rica reflexão sobre a felicidade. O coração inquieto deste
homem não deixou de constatar, após ter provado de tudo, que não há felicidade
fora da plenitude que só Deus é capaz de oferecer. Disse ele: “E quer louvar-te o homem (...).
Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e
inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti”. Isso mesmo Filoteu,
o coração humano está inquieto e não descansará a não ser em Deus, fonte de
todo bem, beleza eterna e verdade plena. Mas, tem muita gente boa que no
passado e se não cuidar até no presente, pensa que para seguir, servir a amar a
Deus é preciso ser triste, que a vida é uma tribulação sem fim e a nossa sina é
a tristeza e desgosto do tempo presente, de modo que a felicidade só existirá
no céu. Acho que aqui entramos no perigoso e escorregadio terreno de uma
tristeza que tem mais cara de frustração e falta de consciência do que
significa ser cristão. Será que não são os que se sentem meros cumpridores de
regras e obrigações, ao invés de filhos livres e felizes partilhando das
riquezas da casa do Pai?
A alegria verdadeira não consiste em ficar rindo o tempo
todo. Tem vezes que certa gaiatice e certos tipos alegróides podem até estar
escondendo alguma coisa. Mas, as alegrias verdadeiras levam as pessoas a serem
serenas, bem humoradas, claro, centradas, mas nunca melancólicas e azedas. A
felicidade de fazer o bem e de viver na amizade com Deus é algo que só
experimenta quem vive com profundidade esse projeto de plena realização. Por
isso, São Felipe Neri dizia: “Pecados e melancolia estejam longe da minha
casa”. E Santa Teresa de Jesus deu um cutucada a respeito: “Ó Senhor livra-nos
das tolas devoções dos santos da cara triste!”. São Francisco de Assis quando
via um frade triste ou mandava comer alguma coisa ou mandava se confessar, pois
para ele tristeza é sintoma de pecado ou de fome (ou as duas juntas, o que é
pior!).
Claro, é bom reconhecer que a felicidade a ser vivida no
tempo presente é sempre limitada. Nunca é plena, é sempre imperfeita, pois somente
na felicidade da contemplação do rosto de Deus na bem-aventurança celeste é que
tudo será sem fim e infinito. É bom não se iludir e parar de querer que as
pessoas sejam perfeitas, que as coisas também e que tudo aconteça as mil
maravilhas sempre. Não estamos no país das maravilhas e não somos aquela Alice
do conto de fadas. Pois isso:
Corações ao alto e pés no chão! Também porque corações
abaixo e pés pro alto é marmota!
Um abraço para ti, Filoteu e que Deus te faça
verdadeiramente feliz.
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